terça-feira, 15 de julho de 2008

Relógio Parado

Relógio do Arco da Rua Augusta
O relógio parou e disse: Acabou-se.
Parei o tempo.
Mas de dentro do relógio
o tempo saltou,
cavalgou, galopou
com dobrado alento
e o relógio ficou
parado
sem tempo.


Versos Miudinhos
de António Torrado

3 comentários:

Mário disse...

VINTE PARA AS TRÊS

Porquê vinte para as três...
sim, porquê?
porquê estarmos condicionados
a esquemas obsoletos e antiquados,
a programas
previamente programados?
Sim, porquê?
Porquê tantos porquês?
Porquê vinte para as três?

As horas não têm vez !
Ah, e se os homens fossem bons,
e os políticos incorruptos...
Ah, e se os oceanos tombassem
em desfiladeiros abruptos...
Nesse caso
tanto poderiam ser
quatro e meia
como dez e cinco.
E até com um pouco de sorte
a própria hora da morte
poderia
ser meio-dia.

Mas
ai de quem disser oito e um quarto
ou duas e dez.
Será preso
julgado
condenado


São vinte para as três !
Ouviram?
Para todos.
Seja sueco, mexicano ou
português
São vinte para as três !

O que interessa é a ordem
e o vinco do fato.
O respeito (a submissão) aos poderes instituídos
e o brilho do sapato.


Mas compreendem,
não é por mal.
é que há bandidos
revolucionários
que se escondem ao pé
das sete e tal

Sim, esses poetas
que passam o dia
a escrever poesia
sobre a utopia
das nove e quarenta.
e também os
intelectuais
e as suas teorias.
escrevem livros,
espalham ideologias:
"Com seis e meia
na defesa dos
oprimidos".
Não lhes dêem ouvidos!
São traidores!
Prefiram que os nossos
locutores,
homens calmos
eficazes,decididos,
vos ofereçam melhor:
O novo vinte para as
três
...em comprimidos!


Vinte para as três.
Sempre vinte para as três...

Ah, se fossem quatro e meia!
A imaginação teria asas
voaria sobre os campos, sobre as casas,
até soltar no Ipiranga o grito
que ecoaria, para além do infinito.

E os relógios,
os relógios de cuco,
os de caixa alta, os de cozinha,
teriam cada um a sua hora
cada um a sua sina.
E por esse mundo fora,
não se saberia se o amanhã era agora
se os sonhos bons poderiam ser verdade
e verdadeira a nossa liberdade.


Cada um
a sua hora,
conforme o gosto do freguês...

Mas são inexoravelmente vinte para as três.
Exactamente vinte para as três.
Pontualmente vinte para as três.

Pobre peão de xadrez
parado no tempo
suspenso no espaço
por cima do traço
das vinte para as três.


Mário Cordeiro - inÁvido de Luz

Carmo disse...

"Ah, se fossem quatro e meia!
A imaginação teria asas
voaria sobre os campos, sobre as casas,
até soltar no Ipiranga o grito
que ecoaria, para além do infinito."
(...)
"E por esse mundo fora,
não se saberia se o amanhã era agora
se os sonhos bons poderiam ser verdade
e verdadeira a nossa liberdade."

Não o imaginava Poeta!

Mário disse...

É um dos meus "desportos" favoritos, quando os ventos sopram (ou se calhar, não) de feição.
Tenho três livros publicados e vou agora para o quarto.
Mas este poema é um dos mais antigos - data de 1974... velhinho, não é (ele e o autor...).

A ideia surgiu de um velho relógio que o meu irmão comprou numa feira em Edimburgo, nos anos sessenta, e cujos ponteiros estavam parados nas vinte para as três.