O pardal no fio
ouvia as conversas
de fio a pavio.
Nada o afastava:
nem o trovão,
nem o frio.
O que ouvia contava,
o que contava corria,
o que corria mudava
o que já se sabia.
O pardal recusou
a alpista,
arranjou uma lista
e fez-se telefonista.
José Jorge Letria
1 comentário:
Um dia o pardal
em mais uma que tal
ouviu uma voz
que não vinha dos avós.
Era apenas um menino
Perplexo, assustado
porque os pais guerreavam
e ele não queria ser abandonado.
Escola A, escola B
e ele a não querer saber
Só pensava no antes
Quando a vida era viver
Encheu-se de brios
Cresceu um horror
E disse aos pais
Com voz de tenor
Vá eu para onde vá
Vou ser sempre o que sou
Honesto e trablhador
um dia pai, se calhar noutro avô.
Não quero saber
das camisas de marca
ou de nomes sonantes:
é realidade parca
Vou ser sempre um menino
que se rege por regras
entendidas e feitas
pela lógica e pelas nódoas negras.
Um dia um senhor Juiz
disse o que era bom para ele
Não tenho problemas, disse,
é forte a mente, é rija a pele
E o menino acreditou sempre no que o pai lhe dizia todas as noites
Aqueles que progridem e que vencem
são ousados e fazem afoites
E assim este menino cheio de alma
Cresceu tranquilo e bom, nunca perverso
E disse ao pai, um dia,
a maravilha
(para qualquer pai)
"Um beijo seu é maior do que todas as estrelas
de todas as galáxias do Universo.
Porque eu gosto do Pai como de mim
E então tem de ser tudo mesmo assim".
Obrigado, meu Filho. Possa eu servir-te de berço de coberta, de edredon, para que a tua vida seja a melhor, a mais feliz, a mais tranquila. E um dia ouvirás, novamente, os pardais ao fim da tarde e os rouxinóis a meio da noite. E compreenderás a essência das coisas. Vai, meu Filho. Vai!
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