quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pais desesperados e filhos incompreendidos

A criança não se conseguia concentrar. Era irrequieta, perturbava os colegas, tinha os trabalhos de casa sempre atrasados. Um desespero. A mãe não teve outra solução: foi consultar um especialista. Falaram longamente. No final, o médico sentou-se junto da miúda e disse-lhe: "estive a ouvir todas as coisas que a tua mãe me contou e preciso de falar com ela em privado. Por isso, espera aqui. Já voltamos". Enquanto saíam, ele ligou o rádio que tinha na secretária. Já fora da sala, disse para a mãe: "Fique aqui e observe-a". Assim que saíram da sala, a menina levantou-se e pôs-se a dançar a música. Observaram-na por alguns minutos e, finalmente, o médico acrescentou: "Sra. Lynne, a Gillian não está doente. Ela é uma bailarina. Leve-a a uma escola de dança".


A mãe acabou por seguir o conselho e diz a própria Gillian, muitos anos mais tarde: "Não consigo dizer quão maravilhoso foi: entrámos numa sala que estava cheia de pessoas como eu. Pessoas que não conseguiam estar quietas. Pessoas que precisavam de se mexer para pensar". Fez uma audição na Royal Ballet School, tornou-se solista, teve uma carreira fantástica e formou a sua própria companhia, a Gillian Lynne Dance Company. Conheceu Andrew Lloyd Weber e foi responsável por alguns dos maiores espectáculos musicais de todos os tempos como Cats ou o Fantasma da Ópera.


Onde os professores viram um problema e os pais uma deficiência, o médico reconheceu um talento. Quando uns teriam receitado medicação e aconselhado a acalmar, o médico aconselhou a explorar e incentivar.

Texto transcrito a partir da conferência de Ken Robinson "Schools kill creativity"

3 comentários:

Sara disse...

Que delícia...haja a sorte de nos depararmos com as pessoas e os profissionais certos, pois podem influenciar toda uma vida!

Rita disse...

Já conhecia esta história, e felizmente mostra um marco na evolução da mentalidade e sensibilidade das pessoas.
Acredito que ainda temos muito mais a aprender, e para tal temos de dedicar muita atenção uns aos outros e sobretudo às crianças - elas comunicam de todas as formas possíveis, "só" temos de as conseguir entender para as poder ajudar a crescer melhor.

Elisete disse...

É por isso que considero tão importante termos o pediatra certo para o nosso filho. E o certo, na minha opinião, não é aquele que é muito bom pq trabalha no hospital e portanto pode socorrer sempre que acontece aguma doença física ou aquele que é muito bom porque nunca falha em nenhuma "ite" física, mas sim aquele que olha para o nosso filho no seu todo e que nos diz coisas que nós nunca pensaríamos como: "O Mi vai para o 1º ano, devem assinalar o primeiro dia de aulas com um jantar especial para ele se recordar como um dia muito importante na sua vida."
E já agora, que bom voltar a este blogue (ou pensavam que se iam ver livres de mim?)!