domingo, 9 de novembro de 2008

Da Poesia ao Desenho

Autopsicografia


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

10 comentários:

Mário disse...

Quando vou a uma livraria, tenho por norma comprar um livro de poesia. De autores "desconhecidos", por regra.

Há uns meses, numa Feira do Livro, vi um de uma autora ribatejana, Manuela qualquer coisa (não digo o apelido por pudor), e entre os escritos da senhora, designadamente para fados, encontro "O poeta é um fingidor", como de sua autoria.

Acreditem que é verdade. Mas, pensando bem, ela confirmou que "a poeta é uma fingidora". Pelo menos essa...

Elisete disse...

E porque também há poesia num brinquedo fica aqui um apontamento: hoje fomos a “um espaço azul a não perder”, o Museu do Brinquedo. E para além de desfrutarmos daquelas maravilhas, tivemos a sorte de encontrar o seu coleccionador e por ali ficámos a ouvi-lo contar histórias de quando era pequeno e de como conseguiu este ou aquele brinquedo. Foi uma tarde magnífica! Obrigada Pai Mário pela sugestão no seu blogue! Tia Cácá, que tal uma visita de estudo ao Museu? O Eng. João d’Arbués Moreira lá estará para contar as suas aventuras às nossas crianças! Aposto que vão adorar saber que existia um Avô que não queria que os netos estudassem porque achava que as crianças só deviam brincar …

Mário disse...

Obrigado, Elisete, mas a partilha não é para agradecer.
O João, que conheço desde miúdo, fez com a mulher, Isabel, um trabalho magnífico.

Um dia, quando fui ao museu, estava a ver um cruzador alemão quando o vi aproximar-se. Depois de um abraço, perguntou-me o porquê dos buracos que o brinquedo tinha. Mistério... mas ele esclareceu-me: era de um rapaz alemão, durante a Guerra, que vivia numa quinta, e o pai ensinara-lhe a disparar tiros com uma pressão de ar para o barquito, que estava no lago da casa.

"Foi assim que os alemães perderam a Guerra", mas estas histórias atrás dos factos tornam a visita muito mais engraçada.

É pena que o Museu seja tão pouco falado nos meios de comunicação. Porque é uma homenagem ao brinquedo, feito a partir de um miúdo que adorava "dinky toys"...

joaninha disse...

Fernando Pessoa faz-me sempre lembrar muita coisa...seminários de estudos pessoanos...Teresa Rita Lopes e os meus colegas (jovens ainda, mas tão cultos. Para esta cadeira fiz um trabalho que me deu muito prazer: ir à procura em Pessoa das poesias que podiam ser trabalhadas com crianças. Como sabemos Pessoa gostava muito de crianças ( fazia imensas brincadeiras com as suas sobrinhas)e, apartir daí foi uma aventura muito interessante. Por esse e outros motivos achei genial ver aqui a sua "Autopsicografia". E mais ser trabalhada em expressão plástica. Fernando Pessoa é um daqueles autores que se permitem serem trabalhados plásticamente (nem percebo porque não é mais trabalhado no cinema ou no teatro).

Tia Cacá (ah! também já fui promovida pelo JB em tia Joaninha. Muito obrigada "ao mais que tudo" da Ana e pai da Gracinha - já gosto dela sem a conhecer) parabéns pelo excelente trabalho que desenvolve!

Nunca participei em blogs, é a primeira vez. E sinto-me bem, digamos em família! Obrigada.

Susete disse...

Viva!
Que engraçado. Também nós no sábado fizemos uma visita ao Museu do Brinquedo em Sintra.
A Madalena gostou muito e nós também. Quando no final fomos rever o brinquedo que ela tinha gostado mais encontrámos o Sr. João Moreira que nos disse ter sido a sua primeira peça da colecção. O seu carro com pedais.
Ficou muito surpreendido por não sermos de Sintra e conhecermos o museu.
As senhoras da entrada não são muito simpáticas mas ele compensa pela sua simpatia e sabedoria.
A exposição temporária também está interessante, “conhecer” os conhecidos pelos seus brinquedos. Adorei a boneca da Alice Vieira (a escritora da minha infância), ou o carro de montar do Dr. Marcelo Rebelo de Sousa.
Com a pressa devido ao adiantado da hora, esqueci-me de fazer um reparo mas aqui fica a nota para quem lá for. Existem várias tomadas de electricidade pelo museu e todas sem protector, sendo um espaço destinado a crianças todo o cuidado é pouco.

Susete

Francisca Prieto disse...

Tenho uma reclamação a fazer!
Este poema do Pessoa veio à baila aquando da minha visita ao Sta Maria.
Vi o trabalho do Rodrigo da sala da Ana e fiquei fascinada porque o corpo do poeta era mesmo em forma de combóio. Parecia a ilustração perfeita da última estrofe da "Autopsicografia".
O trabalho só apresentava um pequeno senão: é que o autor tinha assinado RODRIGO na testa do Fernando Pessoa (o que pode ser considerado um desrespeito!).

E por essas e por outras, foi o desenho da Marta o seleccionado para o blogue. Só que este, embora esteja bem giro, não tem combóio de corda...

Carmo disse...

Que exigência!!!

Passo a explicar, o desenho do Rodrigo perde muito do seu movimento e da sua criatividade depois de fotografado´, é portanto fundamental ir vê-lo ao vivo.

O retrato que a Marta desenhou do Fernando Pessoa adequa-se perfeitamente "...psicografia", perfeito, não?

Convido todos os Pais a irem visitar a exposição de retratos de Fernado Pessoa que os meninos da Ana fizeram.

Susete disse...

Eu já vi a exposição. LINDOS os desenhos dos nossos meninos!

Aqui fica a minha partilha sobre o Pessoa mais concretamente Ricardo Reis. Um poema que me foi transmitido por um Professor muito especial. Exalta o eu de qualquer um!!!

Susete

"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."

Ricardo Reis

Francisca Prieto disse...

Nós cá em casa, como somos todos baixinhos, gostamos de uma frase do pessoa que diz:

"Eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura".

Carmo disse...

Concordo plenamente!!!