Brincar á chuva não faz mal a ninguém, desde que troquem de roupa e se queçam quando acabam de correr e de se mexer (aqui apra nós, será que "isso" acontece alguma vez?). Coitados dos europeus mais ao norte, se tivessem esta "timidez" que os portugueses têm em relação ao Inverno. Saíam á rua dois dias por ano! Por isso, Tia Cacá: "I'm singing in the rain Just singin' in the rain What a glorious feeling I'm happy again I'm laughing at clouds So dark up above The sun's in my heart And I'm ready for love Let the stormy clouds chase Everyone from the place Come on with the rain I have a smile on my face I walk down the lane With a happy refrain Just Singin', singin' in the rain Dancing in the rain I'm happy again I'm singin' and dancin' in the rain I'm dancin' and singin' in the rain" (Gene Kelly)
A propósito das obras de Van Gogh, que tanto admiro, apesar de tão banalizadas em múltiplos calendários e caixas de bolachas, gostava de deixar 2 números interessantes que nos dão que pensar sobre o valor da arte.
Só entre 1883 e 1885 Van Gogh pintou mais de 200 telas.
Na sua vida toda só vendeu 1 quadro - "The Red Vineyard". E hoje em dia qualquer dos seus trabalhos é vendido por milhões de euros.
Que pena não ter vivido para ver o sucesso do seu trabalho!
Francisca Acho que isso se passou, naquele tempo, com a maioria dos criativos, fosse na pintuira, escultura, literatura ou música. Até porque escreviam "fora do seu tempo", eram desalinhados num mundo rígido e intolerante, e criavam como reflexo das suas maiores melancolias, isolamento e revolta, o que não ajudava à compreensão dos outros.
Felizmente os tempos mudaram, embora seja necessário inconformismo e espírito de indignação, para transformar em arte a energia de stresse que corre dentro do artista.
Já imaginou, se houvesse internet e blogues, nos tempos de Van Gogh? Algum amigo fotograva as obras e colocava-as num site. Ou com o telemóvel 3G e enviava para a CNN...
Seria melhor? Van Gogh, onde esteja, talvez nos possa ouvir e esclarecer (mesmo com apenas uma orelha) mas inclino-me a adivinhar qual seria a resposta dele.
E deixo-lhe aqui um poema que escrevi, em 1975, depois de ter visitado o, na altura recém inaugurado, Museu Van Gogh:
Museu Van Gogh Aqui neste negro cemitério rodeado de bruma e de mistério jaz Vincent Van Gogh que, num acto de loucura, disparou um tiro à queima roupa trocando uma vida que julgava pouca por uma estreita e escura sepultura.
Neste jazigo de betão dois metros abaixo do chão jaz Vincent Van Gogh. Já não tem tinta nem cor não tem ódio nem amor, é apenas o que resta de uma aposta perdida com a vida.
Neste covil pardacento forrado de madeira e de cimento jaz Vincent Van Gogh Das mãos com que desenhava os esboços restam ossos. Pobre Vincent. Roído pelos vermes, pelos ratos já não pintas mais autoretratos.
Fechado para sempre numa cela chã Longe de Théo, de Gauguin, das tintas, dos pincéis, do cavalete, já só tens como amigos fiéis a chuva e o vento enquanto nós, compramos um bilhete e num museu com ar condicionado admiramos sabiamente os teus quadros ignorando o sofrimento.
Ora bolas, assim até me dá cabo do ânimo. Ando há que tempos a querer dar um salto a Amesterdão para ver ao vivo e a cores os Van Goghs e Rembrandts e agora com essa do covil pardacento por debaixo do museu fresquinho até me fez ficar com sentimentos de culpa.
Pronto, deixe lá, vou antes a Paris ou Barcelona ver o Picasso que esse ao menos ficou rico e gozou que se fartou!
Francisca Vá. O museu é excepcional e o poema já tem 33 anos!!! Mas o Reijksmuseum é também excepcional e, olhe, nesse mesmo ano, em 1975, estive lá na véspera de um tarado rasgar o Ronde de Nuit, de Rembrandt, com um facalhão. Mas não fui eu, juro! E Amsterdam é uma cidade maravilhosa, sobretudo na Primavera. Uma cidade onde os executivos andam de patins em linha, com o computador portátil estilo mochila, e ouvindo IPOD. Isto em ciclovias que têm prioridade sobre tudo e todos.
Van Gogh era uma pessoa muito especial, tal como Gauguin que ele tanto admirava. Viveram os dois em Arles, na casa amarela, que Van Gogh pintou, vista da praça, o seu interior: os quartos, os quadros dos girassóis (pintados de propósito para alegrar a casa), as cadeiras de palha,a célebre cadeira de braços, do mestre, Gauguin. Théo era o seu irmão, amigo, confidente e protector, foi sempre o seu grande apoio na arte e na saúde. Van Gogh perdeu-se na sua loucura. Entre as fases menos boas pintava muito e fazia projectos. Numa alucinação mutilou-se e mais tarde matou-se num acto pensado.
Xica, Pensei que o combinado era o trio juntar-se e explorar o que Gaudi e Picasso andaram a tramar por Barcelona, está quase!
Em Paris, com o Diogo, tivemos que fugir para passear no Marais, para entrar nas lojas todas que nos apeteceu e irmos ao museu Picasso.
Claro que ele se vingou e no dia seguinte passei o dia inteirinho no Louvre a ver as estátuas romanas uma a uma e a ouvir a história detalhada de cada uma delas. Sempre acompanhada da pergunta: Mãe está a ouvir?, e eu pobre mãe exausta já me sentava em qualquer sitio: escadas, corrimão, chão...e tu ondes estavas? No avião, pois claro!
Portanto nada de me enganares e só aterrarmos em Amesterdão e nem tentes por um segundo deixares-me sózinha com o meu querido filho.
Nós as "manas" também somos fãs de Picasso. Depois de uma incursão por Paris, as duas e o Diogo que estava lá em Erasmus, divertimo-nos tanto que resolvemos dar continuidade a estas escapadelas de fim de semana (têm de ser curtas por causa dos filhos que ficam cá). Vamos a Barcelona, andar a pé pela cidade, passear nos jardins de Gaudi, espreitar Dali, Miró e claro Picasso. O Bairro Gótico passou a fazer parte da lista. O Diogo que faz parte desta tríade vai conhecer um bocadinho melhor a mãe e a tia. São poucos dias mas completos.
Bom, em relação à nossa incursão parisiense, gostei da forma como nos sentámos nos degraus da Sorbonne a olhar cheias de inveja para as estudantes que passavam, enquanto acreditávamos piamente que elas achavam que éramos da sua idade.
Eu, sentimo-me como nos tempos de inter rail, resolvi passear-me de túnica branca e calças de ganga rasgadas. Quase ao nível do ridículo da Lili Caneças.
O Diogo era o mais adulto: dava-nos descompusturas por dizermos disparates, obrigava-nos a comer em pé em sítios muito baratinhos e recusava-se a apanhar um taxi (mesmo quando estávamos carregadas de sacos) porque considerava uma extravagância. Exasperava-se enquanto nós comprávamos sapatos de última moda veranil, e vingava-se enfiando-se numa hiperbolica livraria do Boulevard Saint Michel a comprar tomos gigantes de romances históricos.
Obrigámo-lo a ir ao museu Picasso onde, anos antes, percebi exactamente o percurso do mestre e fiquei encantada. Talvez pela sequência da exposição. Também já estive no de Barcelona e achei, que embora mais completo, era menos mágico.
Pois o meu razinza sobrinho lançava mãos à cabeça e bufava comentando que aquilo não era arte nem aqui nem na China.
Mãe e tia, por falta de quarto de hotel, acabaram a dormir no chão da sua residência estudantil. Não sem antes fazer uma limpeza geral -não por uma questão de higiene, mas pela necessidade de arranjar lugar para nos deitarmos no meio do lixo.
Vá lá uma pessoa perceber a juventude....
É mesmo bom viajar assim ao sabor do momento, sem hora marcada, e podendo vagabundear anonimamente por onde bem nos apetecer.
Que saudades!
Na próxima viagem já o Diogo não tem safa. Barcelona é per si a capital cultural da modernidade. ´ Se quiser ver grandes telas com motivos bélicos, que vá a Madrid!
Ainda me faltam alguns (muitos)anos para fazer viajens destas com os meus filhos...mas esta vossa descrição fez-me ficar com uma sensação tão boa do que pode estar lá à frente...
Aprender com os filhos é uma das maravilhas da maternidade! Isso pelo menos já me posso dar ao luxo de poder afirmar, nas pequenas coisas do dia a dia, numa palavra dita, num miminho dado na hora certa, numa chamada pertinente de atenção...
Mas confesso que anseio por essa cumplicidade, pelo gosto de interesses partilhado, pela complementaridade que só se atinge lá mais à frente! Deve ser bom demais!!
É mesmo bom! O um amor que sinto pelo filho adulto(24 anos) é tão entranhado e forte como o que sinto pelo filho bebé(18 meses), só é diferente!
Também ele como o bebé vem deitar a cabeça no meu colo quando está cansado e precisa de mimo. Também ele precisa da minha voz,disponibilidade e amor.
Neste tempo de comunhão de afectos do dia a dia, às nossas semanas de neve, fins de semana de surf e férias de verão, juntámos estas escapadelas culturais em que a tia Xica ("verbo ir") questão de nos acompanhar já que faz parte integrante dos nossos afectos.
Gosto de me sentar nos degraus a comer crepes hiper enjoativos, de andar kms, "porque assim é que se conhece os sítios e as pessoas", ensinamentos de filho, de partilhar interesses, de aprender a gostar de coisas a que nunca tinha dado importância ou reparado, de rir a bom rir e dar gargalhadas sonoras, de conversar até à exaustão e finalmente adormecer.
O Zé Maria, como presente dos seus treze anos, vai começar a fazer parte do grupo(a Carminho está nos EUA, o Luízinho é pequenino tal como os 4 filhos da Tia Xica (6,4, 3 anos e 18 meses).
Este programa cultural é só para mães e filhos. Quando todos os filhos e sobrinhos tiverem idade para estas andanças temos de voltar ao inter-rail!!!
A propósito destas conversas boas sobre viagens, andei desesperadamente no meio dos caixotes que ainda não consegui arrumar desde que mudei de casa, à procura da "Invenção do dia Claro" do Almada Negreiros.
Sempre que vou de viagem, as palavras deste poema bailam-me na alma.
Paris e eu (José de Almada Negreiros)
Um dia foi a minha vez de ir a Paris. Foi necessário um passaporte. Pediram a minha profissão. Fiquei atrapalhado. Pensei um pouco para responder verdade e disse verdade: Poeta!
Não aceitaram.
Também pediram o meu estado. Fiquei atrapalhado. Pensei um pouco para responder verdade: Menino!
Também não aceitaram.
E para ter o passaporte tive de dizer o que era necessário para ter o passaporte, isto é uma profissão que houvesse! E um estado que houvesse!
E agora digo eu (já não é o mestre Almada): que pena não nos deixarem ser sempre poetas e meninos!
15 comentários:
Brincar á chuva não faz mal a ninguém, desde que troquem de roupa e se queçam quando acabam de correr e de se mexer (aqui apra nós, será que "isso" acontece alguma vez?).
Coitados dos europeus mais ao norte, se tivessem esta "timidez" que os portugueses têm em relação ao Inverno. Saíam á rua dois dias por ano!
Por isso, Tia Cacá:
"I'm singing in the rain
Just singin' in the rain
What a glorious feeling
I'm happy again
I'm laughing at clouds
So dark up above
The sun's in my heart
And I'm ready for love
Let the stormy clouds chase
Everyone from the place
Come on with the rain
I have a smile on my face
I walk down the lane
With a happy refrain
Just Singin', singin' in the rain
Dancing in the rain
I'm happy again
I'm singin' and dancin' in the rain
I'm dancin' and singin' in the rain"
(Gene Kelly)
queçam, não. Aqueçam. Mas que raio de dislexia digital!
A propósito das obras de Van Gogh, que tanto admiro, apesar de tão banalizadas em múltiplos calendários e caixas de bolachas, gostava de deixar 2 números interessantes que nos dão que pensar sobre o valor da arte.
Só entre 1883 e 1885 Van Gogh pintou mais de 200 telas.
Na sua vida toda só vendeu 1 quadro - "The Red Vineyard". E hoje em dia qualquer dos seus trabalhos é vendido por milhões de euros.
Que pena não ter vivido para ver o sucesso do seu trabalho!
Francisca
Acho que isso se passou, naquele tempo, com a maioria dos criativos, fosse na pintuira, escultura, literatura ou música. Até porque escreviam "fora do seu tempo", eram desalinhados num mundo rígido e intolerante, e criavam como reflexo das suas maiores melancolias, isolamento e revolta, o que não ajudava à compreensão dos outros.
Felizmente os tempos mudaram, embora seja necessário inconformismo e espírito de indignação, para transformar em arte a energia de stresse que corre dentro do artista.
Já imaginou, se houvesse internet e blogues, nos tempos de Van Gogh? Algum amigo fotograva as obras e colocava-as num site. Ou com o telemóvel 3G e enviava para a CNN...
Seria melhor? Van Gogh, onde esteja, talvez nos possa ouvir e esclarecer (mesmo com apenas uma orelha) mas inclino-me a adivinhar qual seria a resposta dele.
E deixo-lhe aqui um poema que escrevi, em 1975, depois de ter visitado o, na altura recém inaugurado, Museu Van Gogh:
Museu Van Gogh
Aqui neste negro cemitério
rodeado de bruma e de mistério
jaz Vincent Van Gogh
que, num acto de loucura,
disparou um tiro à queima roupa
trocando uma vida que julgava pouca
por uma estreita e escura
sepultura.
Neste jazigo de betão
dois metros abaixo do chão
jaz Vincent Van Gogh.
Já não tem tinta nem cor
não tem ódio nem amor,
é apenas o que resta
de uma aposta perdida
com a vida.
Neste covil pardacento
forrado de madeira e de cimento
jaz Vincent Van Gogh
Das mãos com que desenhava os esboços
restam ossos.
Pobre Vincent.
Roído pelos vermes, pelos ratos
já não pintas mais autoretratos.
Fechado para sempre numa cela chã
Longe de Théo, de Gauguin,
das tintas, dos pincéis,
do cavalete,
já só tens como amigos fiéis
a chuva e o vento
enquanto nós, compramos um bilhete
e num museu com ar condicionado
admiramos sabiamente os teus quadros
ignorando o sofrimento.
Ora bolas, assim até me dá cabo do ânimo.
Ando há que tempos a querer dar um salto a Amesterdão para ver ao vivo e a cores os Van Goghs e Rembrandts e agora com essa do covil pardacento por debaixo do museu fresquinho até me fez ficar com sentimentos de culpa.
Pronto, deixe lá, vou antes a Paris ou Barcelona ver o Picasso que esse ao menos ficou rico e gozou que se fartou!
Francisca
Vá. O museu é excepcional e o poema já tem 33 anos!!!
Mas o Reijksmuseum é também excepcional e, olhe, nesse mesmo ano, em 1975, estive lá na véspera de um tarado rasgar o Ronde de Nuit, de Rembrandt, com um facalhão. Mas não fui eu, juro!
E Amsterdam é uma cidade maravilhosa, sobretudo na Primavera.
Uma cidade onde os executivos andam de patins em linha, com o computador portátil estilo mochila, e ouvindo IPOD. Isto em ciclovias que têm prioridade sobre tudo e todos.
Van Gogh era uma pessoa muito especial, tal como Gauguin que ele tanto admirava.
Viveram os dois em Arles, na casa amarela, que Van Gogh pintou, vista da praça, o seu interior: os quartos, os quadros dos girassóis (pintados de propósito para alegrar a casa), as cadeiras de palha,a célebre cadeira de braços, do mestre, Gauguin.
Théo era o seu irmão, amigo, confidente e protector, foi sempre o seu grande apoio na arte e na saúde.
Van Gogh perdeu-se na sua loucura.
Entre as fases menos boas pintava muito e fazia projectos.
Numa alucinação mutilou-se e mais tarde matou-se num acto pensado.
Xica,
Pensei que o combinado era o trio juntar-se e explorar o que Gaudi e Picasso andaram a tramar por Barcelona, está quase!
Em Paris, com o Diogo, tivemos que fugir para passear no Marais, para entrar nas lojas todas que nos apeteceu e irmos ao museu Picasso.
Claro que ele se vingou e no dia seguinte passei o dia inteirinho no Louvre a ver as estátuas romanas uma a uma e a ouvir a história detalhada de cada uma delas. Sempre acompanhada da pergunta: Mãe está a ouvir?, e eu pobre mãe exausta já me sentava em qualquer sitio: escadas, corrimão, chão...e tu ondes estavas? No avião, pois claro!
Portanto nada de me enganares e só aterrarmos em Amesterdão e nem tentes por um segundo deixares-me sózinha com o meu querido filho.
Picasso, para mim, é talvez o "mestre dos mestres". Sou um fã incondicional.
Estive recentemente no Museu Picasso em Paris, mas acho o de barcelona talvez mais completo. E o Bairro Gótico rivaliza em garra com o Marais.
Ai que saudades de ambas as cidades. Que "saucidades"...
Quando é que inventam os teletransportadores? (sem entrarem moscas no aparelho, claro).
Nós as "manas" também somos fãs de Picasso.
Depois de uma incursão por Paris, as duas e o Diogo que estava lá em Erasmus, divertimo-nos tanto que resolvemos dar continuidade a estas escapadelas de fim de semana (têm de ser curtas por causa dos filhos que ficam cá).
Vamos a Barcelona, andar a pé pela cidade, passear nos jardins de Gaudi, espreitar Dali, Miró e claro Picasso.
O Bairro Gótico passou a fazer parte da lista.
O Diogo que faz parte desta tríade vai conhecer um bocadinho melhor a mãe e a tia.
São poucos dias mas completos.
Quem sabe na Primavera voamos até Amesterdão!
Bom, em relação à nossa incursão parisiense, gostei da forma como nos sentámos nos degraus da Sorbonne a olhar cheias de inveja para as estudantes que passavam, enquanto acreditávamos piamente que elas achavam que éramos da sua idade.
Eu, sentimo-me como nos tempos de inter rail, resolvi passear-me de túnica branca e calças de ganga rasgadas. Quase ao nível do ridículo da Lili Caneças.
O Diogo era o mais adulto: dava-nos descompusturas por dizermos disparates, obrigava-nos a comer em pé em sítios muito baratinhos e recusava-se a apanhar um taxi (mesmo quando estávamos carregadas de sacos) porque considerava uma extravagância.
Exasperava-se enquanto nós comprávamos sapatos de última moda veranil, e vingava-se enfiando-se numa hiperbolica livraria do Boulevard Saint Michel a comprar tomos gigantes de romances históricos.
Obrigámo-lo a ir ao museu Picasso onde, anos antes, percebi exactamente o percurso do mestre e fiquei encantada. Talvez pela sequência da exposição.
Também já estive no de Barcelona e achei, que embora mais completo, era menos mágico.
Pois o meu razinza sobrinho lançava mãos à cabeça e bufava comentando que aquilo não era arte nem aqui nem na China.
Mãe e tia, por falta de quarto de hotel, acabaram a dormir no chão da sua residência estudantil. Não sem antes fazer uma limpeza geral -não por uma questão de higiene, mas pela necessidade de arranjar lugar para nos deitarmos no meio do lixo.
Vá lá uma pessoa perceber a juventude....
É mesmo bom viajar assim ao sabor do momento, sem hora marcada, e podendo vagabundear anonimamente por onde bem nos apetecer.
Que saudades!
Na próxima viagem já o Diogo não tem safa. Barcelona é per si a capital cultural da modernidade. ´
Se quiser ver grandes telas com motivos bélicos, que vá a Madrid!
Ainda me faltam alguns (muitos)anos para fazer viajens destas com os meus filhos...mas esta vossa descrição fez-me ficar com uma sensação tão boa do que pode estar lá à frente...
Aprender com os filhos é uma das maravilhas da maternidade! Isso pelo menos já me posso dar ao luxo de poder afirmar, nas pequenas coisas do dia a dia, numa palavra dita, num miminho dado na hora certa, numa chamada pertinente de atenção...
Mas confesso que anseio por essa cumplicidade, pelo gosto de interesses partilhado, pela complementaridade que só se atinge lá mais à frente! Deve ser bom demais!!
É mesmo bom!
O um amor que sinto pelo filho adulto(24 anos) é tão entranhado e forte como o que sinto pelo filho bebé(18 meses), só é diferente!
Também ele como o bebé vem deitar a cabeça no meu colo quando está cansado e precisa de mimo.
Também ele precisa da minha voz,disponibilidade e amor.
Neste tempo de comunhão de afectos do dia a dia, às nossas semanas de neve, fins de semana de surf e férias de verão, juntámos estas escapadelas culturais em que a tia Xica ("verbo ir") questão de nos acompanhar já que faz parte integrante dos nossos afectos.
Gosto de me sentar nos degraus a comer crepes hiper enjoativos, de andar kms, "porque assim é que se conhece os sítios e as pessoas", ensinamentos de filho, de partilhar interesses, de aprender a gostar de coisas a que nunca tinha dado importância ou reparado, de rir a bom rir e dar gargalhadas sonoras, de conversar até à exaustão e finalmente adormecer.
O Zé Maria, como presente dos seus treze anos, vai começar a fazer parte do grupo(a Carminho está nos EUA, o Luízinho é pequenino tal como os 4 filhos da Tia Xica (6,4, 3 anos e 18 meses).
Este programa cultural é só para mães e filhos.
Quando todos os filhos e sobrinhos tiverem idade para estas andanças temos de voltar ao inter-rail!!!
A propósito destas conversas boas sobre viagens, andei desesperadamente no meio dos caixotes que ainda não consegui arrumar desde que mudei de casa, à procura da "Invenção do dia Claro" do Almada Negreiros.
Sempre que vou de viagem, as palavras deste poema bailam-me na alma.
Paris e eu (José de Almada Negreiros)
Um dia foi a minha vez de ir a Paris. Foi necessário um passaporte. Pediram a minha profissão. Fiquei atrapalhado. Pensei um pouco para responder verdade e disse verdade: Poeta!
Não aceitaram.
Também pediram o meu estado. Fiquei atrapalhado. Pensei um pouco para responder verdade: Menino!
Também não aceitaram.
E para ter o passaporte tive de dizer o que era necessário para ter o passaporte, isto é uma profissão que houvesse! E um estado que houvesse!
E agora digo eu (já não é o mestre Almada): que pena não nos deixarem ser sempre poetas e meninos!
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