domingo, 5 de outubro de 2008

As histórias

As histórias fazem parte da nossa infância.
Gostámos tanto de as ouvir que vamos repetir com os nossos filhos o que os nossos pais ou avós fizeram connosco. Quiçá até contamos as mesmas histórias que relembramos com saudade.
Ao colo dos pais a ouvir uma história a criança aprende o nome das coisas e como se dizem e transmitem os sentimentos. Se os sentimentos se podem dizer e contar passam a ser uma experiência partilhada.

"Uma das formas úteis de falar com uma criança é através das histórias que se lhe contam. Ali, através das várias personagens, boas e más, e das aventuras que vivem, a criança vê representados os medos que sente, os sentimentos que a agitam e a perturbam. Acompanha o herói da história no seu percurso e aprende a enfrentar, como ele enfrentou, vários tipos de situações problemáticas. Percebe que não é só na sua vida que há coisas boas e más, desejos e prazeres, medos e perigos, mas na vida de toda a gente. E há soluções possíveis.

A história permite um momento de verdade, em que se pode falar dos "segredos" do mundo infantil a propósito de "outra pessoa", que é o herói da narrativa. Assim fala-se desses "segredos" com maior distância, o que os redimensiona, sem que a criança se sinta devassada na sua intimidade.
Só falará "de si" se assim o quiser. E quase sempre quer.
As histórias não podem reflectir uma maneira idealizada de ver a infância se assim fosse perderiam a sua verdade e, portanto muito da sua eficácia."
Reflexões de João Seabra Diniz
Dezembro de 2000


Contar histórias aos filhos não é só uma maneira de passar o tempo. É uma experiência comum enriquecedora. Ajuda os pais no desempenho da função parental. E é com os pais que a criança deve aprender que se pode viver com alegria, mesmo depois de saber que existe o sofrimento.

Externato Santa Teresinha de Lisieux

2 comentários:

Mário disse...

Afinal, o que é uma história? É um relato, oral ou escrito, de acontecimentos, episódios, vivências, ficcão (que resulta de um misto das anteriores com uma dose mais livre de criatividade).
Os sonhos são histórias, nas quais somos realizadores, produtores, managers do casting e equipa de filmagens. Inventamos histórias a propósito de tudo - até as nossas mentiras (dizem os especialistas que dizemos até 200 por dia), são histórias.

Para lá das histórias já inventadas por alguém, podemos sempre fazê-las, quer reconstruindo as anteriores, quer criando as nossas próprias, com os nossos filhos. E deveríamos escrevê-las, já que, nas sociedades ditas ocidentais, a tradição oral vai decrescendo, e o que não fica registado perde-se, no tempo, com os graves efeitos colaterais que daí advêm.

As histórias são, quanto a mim, uma forma de perpetuar a memória, de ensinar o relato dos factos, de colocar questões éticas e morais, de explicar e exemplificar comportamentos, numa palavra, de auxiliar preciosamente a criança na definição do seu percurso e projecto de vida.

Sei por experiência própria: um caso clínico perdura mais na memória do que várias aulas ou páginas de livros de texto...

Carmo disse...

Aí está, estamos a falar uma vez mais de relação afectiva.
A história quando é contada a uma criança tem um efeito especial porque as experiências são vividas com o apoio de quem a está a contar, de um adulto que está afectivamente ligado à criança, que a leva a sério que lhe conta coisas bonitas e boas e outras menos boas mas que são realidade, então é preciso falar delas para deixem de meter medo. É a tal experiência partilhada.